Inspirados na cara-de-pau com que o personagem infantil Pinóquio contava suas mentirinhas, enquanto o nariz esticava, dois psicólogos americanos divulgaram os resultados de uma pesquisa que avalia como as crianças tendem a misturar realidade e fantasia, um tema que sempre preocupou pais e educadores.
Psicólogos de diferentes correntes concordam que a confusão entre fantasia e realidade é normal e faz parte de uma fase crucial do desenvolvimento, entre os 3 e os 7 anos de idade, mas alertam para a necessidade de que os pais combatam as mentiras deliberadas e arquitetadas pela criança para se livrar de alguma responsabilidade ou levar outro tipo de vantagem. A principal dificuldade da família é identificar quando os filhos estão de fato falando a verdade ou quando estão dando asas à imaginação. A melhor reação ao ouvir uma história cabeluda da boca da criança é não acreditar em tudo nem duvidar completamente. É preciso cautela para filtrar a realidade, tarefa que requer conversa paciente e boa dose de habilidade. Ela pode dizer que apanhou da professora no colégio, mas talvez tenha apenas ficado impressionada com uma bronca.
Os pais só devem se preocupar quando a criança tiver o objetivo claro de fugir da realidade e não enfrentar determinadas situações. Até três anos de idade a criança não distingue entre o real e o fantástico. Não consegue separar o faz-de-conta da realidade. É na infância que o senso ético vai se formando, amadurecendo. A internalização do certo e do errado vai acontecendo através de processos internos e será por volta dos nove anos que a criança terá estes dois conceitos melhor definidos. Portanto, ela poderá, neste percurso, às vezes, não falar a verdade e isto será normal. Quando, no entanto, a mentira se torna uma constante na vida da criança, é preciso investigar. Ela pode estar se tornando patológica.
Muitas crianças mentem porque não querem decepcionar os pais que, às vezes, têm expectativas muito grandes em relação a elas. Pais muito bravos correm o risco de estarem ensinando os filhos a mentir, no sentido em que a criança pode deixar de falar a verdade por medo do castigo, da represália. Outras crianças mentem porque não sabem enfrentar as críticas, e não estão com a auto-estima bem estruturada. A mentira geralmente denota a sensação de fraqueza, impotência diante de alguma situação. Ocorre também das crianças mentirem porque aprenderam com os mais velhos. Presenciam os pais distorcendo os fatos, mentindo, omitindo. O modelo é fundamental na vida da criança, pois ela se espelha nele. É nesta fase que está sendo formado o caráter da pessoa. Por esta ser uma fase de formação, a criança irá repetir pela vida o que ela estiver aprendendo. Por isto ser um período tão importante.
Diante das mentiras, no entanto, é fundamental que os pais não chamem os filhos de mentirosos, fracos, porque eles podem internalizar e acreditar que realmente são assim, e agirão de acordo com este rótulo. É essencial deixar claro que a crítica é para a atitude e não para a pessoa. Ou seja, não é a criança que é errada e feia. É a mentira que é errada e feia. Isto faz uma grande diferença. É bom conversar com o filho, tentar entendê-lo para compreender o que há por trás das mentiras.
É bom lembrar que a criança que está acostumada a mentir não irá parar de uma hora para outra, porque acaba virando um hábito. Conversando, observando, tentando entender um pouco o mundo infantil, fica muito mais fácil auxiliar a criança no seu desenvolvimento. O importante é saber que a mentira, às vezes, pode fazer parte do processo de crescimento, mas se passa a ser uma forma exagerada pode ser um aviso de que há algo errado.