A Indisciplina é um Aprendizado como outro Qualquer
Os problemas do mundo já existiam antes de nós existirmos. Não existem novos problemas, apenas novos indivíduos experimentando as mesmas coisas.
A criança, mais que um adulto, necessita de cuidados especiais, de uma atenção maior por parte dos educadores e pais. Estão passando por um processo de "formatação" para se tornarem adultos, e a depender da qualidade desse trabalho, construirão um mundo de desarmonia ou harmonia.
Mas como podemos construir nosso filho ou aluno à imagem do bom senso, se as influências de todas as partes, a nosso ver, teimam em fazer o contrário? Será que o exemplo não começa dentro de casa? Afinal de contas, esse é o ponto de origem de qualquer criança. É seu ponto de partida e de chegada ao final do dia, é sua mesologia mais intimista.
Supondo que caminhemos sobre uma linha reta, sobre a qual podemos andar para trás ou para frente, e qualquer que seja o sentido ou a direção que venhamos a tomar, será sempre sobre ela. É uma linha inflexível, e esta representa o que nesse momento somos como indivíduos, nossa inteira formação psicológica, nosso modo de avaliar coisas e pessoas, nosso arquivo particular de informações com as quais julgamos, avaliamos ou decidimos, todos os movimentos do nosso viver.
Essa linha inflexível representa o tempo, o tempo necessário para a assimilação das ideias do mundo e construção de nossa personalidade. Não são ideias novas, pois nem o mundo é novo, nem suas tradições o são. Mas, como indivíduos recém chegados, logo nos tornaremos tão velhos quanto suas ideias e tradições, pois são elas que darão forma às nossas personalidades e sentimentos, medos e angústias.
Podemos constatar tudo isso de uma forma muito singular. A questão é:Há em nós algum sentimento emocional único, nunca experimentado e identificado antes por mais ninguém? E mais ainda, se há algum projeto absolutamente novo em nossos pensamentos, uma vez que qualquer ideia se baseia em ocorrências pré-existentes. Tudo o que já existe, todo esse acervo, só podemos ter assimilado do próprio gênero humano.
O fato é que não há conhecimento novo, pois o mesmo “saber ou mente” que formou minha psique é também do resto do mundo. E até o meu temperamento, a essa altura, já foi modificado, deformado, teve que se adequar aos novos fatores condicionantes. As influências estão disponíveis para todos. É claro que cada cultura contribui com uma parte, e cada população absorve a cota que lhe pertence. E todas as culturas juntas, como fragmentos, formam o conhecimento do mundo, o pensamento, ou acervo possível de ser assimilado por qualquer um.
Isso inclui o conhecimento material e o emocional, e os problemas criados a partir de suas soluções sempre parciais. Somos o resultado de tudo isso, e sensato seria questionarmos por que as soluções são sempre incompletas, e por que ainda há o problema do medo, dos conflitos, do sofrimento.
E passados tantos séculos de tentativas, de planos excêntricos para colocar o homem em ordem, de repressão violenta com a mesma intenção, de reformas sociais e religiosas sem um resultado definitivo, resta-nos questionar se o intelecto do homem com todo o seu conhecimento é mesmo capaz de promover essa tal transformação.
Podemos continuar a esperar pela escola, por novas reformas sociais, políticas ou religiosas. Podemos ainda esperar que o tempo resolva a questão, a despeito dos milhares de anos já passados, e das várias civilizações com suas fórmulas e doutrinas que fracassaram. E se nada disso logrou êxito, deveríamos considerar que pode haver um erro nesse processo.
Mas, também podemos, ao contrário, começarmos uma reforma em casa, um ajuste interno que não dependa mais de tais influências, das opiniões de quem quer que seja. Será um passo gigantesco, uma vez que não nos guiaremos mais por ninguém, por nenhuma tradição ou propaganda.
Será um aprendizado novo, a partir de nós mesmos, da prática com nossa família e amigos, do contato intimo com nossos filhos e cônjuges. Aprenderemos enquanto vivenciamos, enquanto sentimos. Aprenderemos enquanto sofremos com nossos problemas, conflitos e carências, falhas, ou enquanto nos empenhamos em resolvê-los. Talvez, a partir dessa experiência pioneira, poderá nascer um novo homem, pelo menos dentro de nossa casa.
fonte: http://sitededicas.ne10.uol.com.br/art_disciplina_em_casa2.htm
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